Political Drama
Political Drama é um híbrido de live, peça sonora e áudiodocumentário a partir do caos político e a crise de representatividade que instaurou-se no Brasil nos últimos anos. Paloma Klisys parte da compilação de discursos, áudios vazados, fragmentos de noticiários nacionais e internacionais, entre outras fontes, para criar um mosaico de sons e imagens manipulados em tempo real.
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Dentre a centena de fragmentos utilizados, o set mistura e “esquizofreniza” diversos recortes das falas dos deputados estaduais brasileiros desde o dia 17 de abril de 2016, durante a sessão que aprovou o encaminhamento do processo de impedimento da presidente. Dia considerado histórico no qual ficou particularmente evidente a Torre de Babel que é a política brasileira atual, dada a disparidade dos discursos e a insanidade reinante.
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O trabalho começou a ser apresentado em julho de 2016, ainda durante o processo de julgamento do impeachment, desde então seguiu incorporando referências sonoras e visuais que vão surgindo conforme complexifica-se o cenário político e o rumo dos novos acontecimentos que parecem manter uma relação sui generis com obras de realismo fantástico.
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Political Drama deseja provocar a percepção dos cidadãos e cidadãs através da proposição de outras possibilidades de escuta de discursos proferidos que, impreterivelmente, afetam e constroem nossa realidade. Tratar a crítica política como crítica textual, acompanhando as recorrências e disparidades do rastro da fala de nossos políticos inconsequentes.
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O live polifônico Political Drama que disparou o processo criativo foi dividido em cinco capítulos, ao longo dos quais a autora desenvolve uma narrativa sobre o processo de impedimento de Dilma Rousseff com fragmentos de áudios e vídeos inter-relacionados. As transições entre os capítulos são marcadas por mudanças de ritmo e andamento do conteúdo sonoro e de ritmo de montagem e apresentação do conteúdo visual.
Os vídeos - projetados e manipulados em tempo real concomitantemente com os fragmentos de áudio - exploram o repertório de gestos marcadamente retóricos, focando ao máximo em detalhes de linguagem corporal tais como olhares, expressões faciais, abraços e gestos de apoio e/ou repulsa e embate entre os personagens em questão, dentre eles: políticos, jornalistas, militantes e outros atores sociais contra e a favor do impeachment, afirmando ou rejeitando o discurso de golpe.
Os conteúdos visuais deste trabalho são compostos por fragmentos de imagens e vídeos da marcante sessão do dia 17 de abril de 2016, recortados da cobertura da TV Senado e de outras mídias, mas também de todo o processo exaustivo de oitiva de testemunhas de defesa e acusação da Comissão Especial do Impeachment, pela histórica sessão em que a ex-presidente fez pessoalmente sua defesa no Senado e acontecimentos marcantes depois da destituição dela do cargo, além de outros momentos da história recente do país. A repercussão nacional e internacional também é contemplada no processo de composição dos vídeos.
Nas apresentações do live Political Drama, Paloma propõe um choque semiótico ao utilizar simultaneamente na composição de seu figurino elementos que, atualmente no Brasil, representam posturas políticas distintas.
A camisa da seleção brasilera de futebol utilizada em diversas manifestações para demarcar grupos que afirmam um pensamento considerado de direita ou extrema-direita e a camisa vermelha, cor taxada como a cor dos comunistas que devem ser perseguidos e eliminados segundo alguns grupos mais radicais.
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A artista também mistura a calça jeans, peça que históricamente produzida para ser uma roupa de trabalhadores e a gravata em referência à formalidade do mundo corporativo